quarta-feira, 14 de julho de 2010

MORDENDO A LINGUA

Mordo a língua,
quando refém dos amigos, dos inimigos íntimos,
e na dança macabra,entre orgias diárias e rituais pagãos,
tento exorcisar os pecados do mundo.
estes, tatuados, na minha pele ,nua e crua
e os que ainda virão.

Mordo a língua quando nua e crua
ao abrigo da ira, da malediscência,
observo flecha endereçada, mas
assassinato arquitetado não recua.

Mordo a língua, quando sonâmbula
à beira do cais, na areia movediça,
ou cega na corda bamba, sou sacudida
da base ao cume ,e nem sinto mais.

Mordo a língua .
Não tento comprovar a hipocrisia,
a inconsciência, malvadez
na antropofagica amizade, sordidez
,
Mordo a língua ao perceber
que é melhor estar com quem devora,
ser engolido , do que nada ser,

Mordo a língua,
quando ao meu redor
não estejam criaturas,
vestidas de carne, sangue e suor,
continuando arremedos de gente,
esboços, derrubados eternamente
nos seus vazios barrocos.

Mordo a língua
pelos complôs, conspirações,
inconfidências que, tal qual serpentes,
acabam por morder a própria cauda,
estes inconsequentes.

Mordo a língua,
quando tentam me morder
arrancar a máscara
acabando por envenenar-se
com a minha náusea.

Mordo a língua
por esses heróis sem causa.-

Marilene Garcia do livro: MORDENDO A LÍNGUA



2 comentários:

  1. É DE MORDER A LÍNGUA MESMO, BEM FORTE E ATRAENTE,
    E MUITO BEM CONSTRUÍDO.
    GOSTEI MUITO... um GRANDE abraço.

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  2. Agradeço ao grande poeta J.B.ROMANI/ Como diz Vygotsky"Uma palavra sem significado é um som vazio".- Penso que encontraste significado nesta minha depuração de alma, pelas tuas lindas palavras de incentivo. Obrigada

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