sábado, 24 de julho de 2010

DO ÚTERO AO AGRADÁVEL

Nascimento , ponto de partida, junta-se pedaços , lambe-se feridas
joga-se fora o tal umbigo, e inicia o processo, vida des/vida
Vôo,
vôo rasante, vôo radical, na beira do horizonte, coisa e tal,
vôo para onde?
Neurônios acomodam-se, depois desmancham-se em vão.
Se alma for pequena, cabeça feita, tronco inodoro,
o que fazer da insipidez, agora.
Batalhões humanos se devoram, perdem identidade
e nem por isso, choram,, ,
matança/rapto/sequestro
a mídia registrando palmo a palmo, sem nem me perguntar
se quero assistir,
mas não registra a minha "Declaração dos Direitos do Mar",
pois ninguém, quer saber,
Procissão de carne/sangue/suor e nervos,
obedecendo a contra/gosto, ditames, regras e preceitos.

Caminhar para onde antes da morte ?

Prosaico, salientar a disputa por elevadores,
luta pelo supérfluo, náusea pela inveja.
Depois,
depois lamber feridas e aos trambulhões
continuar na lida e na luta insana de quem chega primeiro
sem escorregar na casca da banana.
Depois, do depois seguir acomodada no Olimpo Tropical
tal qual gordo açogueiro que come a carne sem matar o boi

Fico estática no meio do caminho
se observo a turba, me cortam, esmigalham,
se corro junto, me enxergam na disputa, filhos da puta,
da puta vida.
Que nojo !
aos gritos e trambulhões entrar nesta olimpíada,
que nem de longe pensou-se disputar, um dia.
Tantos tontos vomitarão conceitos,nas suas estatais
dependurados nas suas bebedeiras,
escreverão leis, sem cumprí-las jamais
Outros,,
mascarão chicletes na hora da eleição,
levantarão bandeiras, perdendo tempo e voz
apregoando mofadas ideologias,
sem se envergonharaem, jamais.
Alguns, muitos, viverão deitados eternamente,
fazendo contratos de casamento
com pompas e circunstãncia,
depois distrato de consciência,

Vicidos neste Olimpo e tontos pela própria natureza,
venderão realeza a reis,e droga a qualquer fregues.
Que nojo !
Que hipocrisia o eterno discurso político,
que jamais mudará o caminho dos eleitores mal/ditos
Se tudo está perdido
se alguem der o primeiro passo é engolido
Puta vida,
vida de amargar, do útero cheguei,
no agradável, nem é bom falar.-.


Marilene Garcia /livro MORDENDO A LÍNGUA.

domingo, 18 de julho de 2010

NOITE

Hora dos contágios
da reenergização,
do inquieto e fugaz,
da paixão,
dos vicios, do estupro,
da conspiração.
Beijos, nem todos na boca,
olhos nem todos, nos olhos,
hora do calor e do arrepio,
do cataclisma e do cio,
do sobressalto e do assalto,
da anarquia e da cisma,
das bebedeiras e da morte
nas esquinas,
do tiro no ouvido
de perder sentidos,
do falso e do fingido
da comichão no seio
do cortar os pulsos
do orgasmo e do susto
do vomitar segredos
do não e do ter medo.
Anoitecendo as horas
amanheço em mim
repleta de itinerários,
despreocupada com horários
dissimulada ,
clandestina no ópio.
Obsessivamente fascinada
pela escuridão,
pela alegria de jamais ter
portado relógios
e nem por isso ,viver na inquietação.
Noite/não é privilégio, apenas,
de bandidos e ladrões,
prostitutas e rufiões.
Noite/ do viajante
que na claridade se faz, cego,
e que não usa o tempo
para perceber os dias
e na sua loucura
encontrar remédios.
Noite/ para quem se entrega,
entre o contorno da sua fantasia,
e a camuflagem da identidade,
Noite /total rebeldia,
o abandono da blindagem diária,
fora da alucinação do dia a dia.-

Marilene Garcia para o livro NUA&CRUA

VIDA ÍNTIMA

Intimidades
da minha vida nua&crua,
não interessa a ninguem,
nem aos daqui, muito menos, aos do além,
Íntimo
é remontar pedaços
de carne/sangue e suor,
tronco e nervos,
pele, alma e coração,

Lavá-los, perdurar lá fora,
para que após secarem,
desamarrotados,
vesti-los, bem devagar.
Depois,
sair a rua,
não mais nua&crua
e de novo se sujar.
Nesta roda viva de pura náusea
roupa suja, se lava, em casa.

Marilene Garcia para o livro NUA&CRUA

VIDA ÍNTIMA

PARTILHA ( do livro XIRUA)

Desalinho o pensamento, dos nossos dias de amor,
do tilintar das esporas, sem precisar dia ou hora,
dos nossos quartos de lua, por sob arreios eu/nua&crua,
pelas garupas da noite, separamos nosso pasto,
na salamanca da vida, desencontramos o passo,

Mas , não aceito de volta,
o que sempre foi dos dois,
- o perdiqueiro, a guaiaca
ou as chilenas de prata
a casa do joão de barro,
ou o tapete gateado.
Seriam tristes recuerdos,
se voltassem para mim,
a acordeona, a viola,
ou o pala de cetim,
nosso cavalo tordilho,
e a gata, sempre no cio.

Nossos segredos, tu guardas,
nos grilos de outra consciência,
nossos peçuelos enterras,
no pasto e outra querência,
- se o sonho já terminou,
e dele nos acordamos,
só quero que me devolvas,
os beijos que nós trocamos .-

Marilene Garcia do livro XIRUA/1984

sexta-feira, 16 de julho de 2010

CONFISSÃO/DESAPEGO

Tal qual um peixe desapegado da terra,
desapeguei-me de tudo que me blindou um dia,
Jóias ganhas, presenteadas e outras herdadas,
me foram todas roubadas,( em fevereiro de 1995,)
embora, nenhum assalto em minha casa.

O ladrão e eu nos conhecemos.
O mistério já foi desvendado.
Ninguém deu importância ao fato,
tanto quanto, não ficam preocupados,
quando fujo envergonhada , dos porta retratos.
Em Porto Alegre/minhas jóias,
em Santiago/ minha rua, a Venancio Aires,
e eu , incólume , ante os delinquentes .
Em Torres,roubaram desavergonhosamente ,
meus horizontes,
impuseram-me ,Torres de cimento e me cegaram.
Roubaram-me, o Morro da Guarita, o do Farol,
o mar de Itapeva e suas Dunas,
e o meu Mar da Praia Grande.
Desapegada das joías, e da rua,
agora, olhos embaçados,
e lagrimas salgadas, na minha gaiola/sacada
TORRES DE CIMENTO, quem diria,
quem imaginaria acontecesse
esta desgraceira, um dia,
tantos ladrões em liberdade,
proliferando, à revelia
E eu,
desapegada ,
NUA & CRUA.-

Marilene Garcia em NUA&CRUA

quinta-feira, 15 de julho de 2010

BRINCANÇA

Tem dias que invento um mundo encantado ,
enquanto o meu mundo, me olha espantado.
Me vejo criança, e volto à infância.
Abrindo a caixinha (onde minto),
ter sempre guardado, estórinhas.
Então,
brinco que roubo de outras crianças,
pedaços de bolo, balas de goma,
bonecas de pano .
Choro por horas ,das dores que invento,
por qualquer brinquedo que me foi tirado,
ursinhos e até o namorado.
Não sei minha idade e nem minha altura,
meu peso, minha gostosura,
Desenho bonecas, e as deixo encerradas
lá na geladeira ,para que congeladas,
morram de frio, sem fazer choradeira.

Na brincança ,derramo sorvete,
na loucura,
lambuzo o vestido
engulo papéis, urino nas calças
e faço beicinho,
até o sono chegar
bem devagarinho.


Cansada na andança/criança,
resolvo voltar,
- lá vou eu - saltitante,
buscar o tesouro, para me guardar
fechando a caixinha dourada,
(comigo lá dentro,)
prá ninguem me roubar.

Percebo com medo,
brinquei de criança,
e agora em silêncio,
o meu faz de conta ,
não quer me soltar.-

Marilene Garcia em : NUA & CRUA

RITOS

Quem derrama o vinho
não é quem lava a toalha branca
de linho,
Quem derrama o vinho
não é quem se comove
com o pássaro longe do seu ninho.
Quem derrama o vinho
não é quem procura a imortalidade
no promíscuo caminho.
Quem derrama o vinho
é quem se atreve, (mesmo que o torpor seja breve),
sentir mamilos duros, rubros, brancos, rosas,
- agora diluídos - se entregando ao sangue que o aquece.


Marilene Garcia/ do livro : MORDENDO A LÍNGUA


ATREVIDA

Sim,
síndrome ou não,
por toda a vida, atrevida.
Por escolha, DNA, blindagem,
imposição do ego, sacanagem.
Nada de sensatez
a arrogância lhe acompanha,
e a malvadez.
Sendo "persona não grata",
com ela ninguém se importa,
nem os filhos, poucos amigos,
batem-lhe à porta,
Ninguém a chama para um carinho,
e todos a desejam, fora do caminho.
Enquanto um vulcão ,em constante erupção,
enfrenta um céu, que se desdobra ,
para tatuar imagem boazinha,
pinta as unhas,
retoca a maquilagem,
quer matar a vizinha,
chuta o cachorro
ao lhe pedir passagem.
O atrevimento, dizem,
não constrói.
Por linguajar indecifrável,
vai morrer, indesejável.-


Marilene garcia em : MORDENDO A LÍNGUA

DO ÚTERO AO AGRADÁVEL

Nascimento /porto de partida, junta-se pedaços, lambe-se feridas,
joga-se fora, o tal umbigo e inicia-se processo vida/des(v)ida.
Vôo, vôo rasante, vôo radical, na beira do horizonte e coisa e tal.
Acomodam-se neurônios depois desmancham-se em vão.
Se a alma for pequena, a cabeça arquitetando sempre teoremas,
tronco inodoro, membros amorfos,
o que fazer da insipidez que devora.

Batalhões humanos se matam, perdem a identidade e nem por isso, choram.
É matança/rapto/sequestro e a mídia registrando palmo a palmo,
mas, não mostra minha "declaração dos direitos do mar",
meus protestos, contra esse mundo aquinestésico, histérico.
Segue a procissão de carne,sangue,suor, e nervos
obedecendo à cabresto, ditames,regras e preceitos.

Prosaico salientar a disputa por elevadores, luta pelo supérfluo,
náusea pela inveja , descrença nos políticos, paranóia do sexo,
drogadição em qualquer ocasião e no poema/ os críticos...

Depois,
lamber feridas e aos empurrões exercitar a vida,
nessa luta insana de quem chega primeiro
sem escorregar na casca da banana.
Seguir
acomodados no Olimpo Tropical
tal qual gordo açougueiro que come a carne
sem matar o boi, e nem por isso, passa mal.
Fico estática no meio do caminho,
se observo a turba me cortam, esmigalham,
se corro junto, me enxergam na disputa,
ninguém então, me dá sossego,
filhos da puta, da puta vida.

Que nojo!
aos trambulhões entrar nesta olimpíada,
que nem de longe, pensou-se disputar, um dia.

E o resto?
O resto de humanos, resto mesmo, vomitarão idéias,
planos e projetos, dependurados no mecenato estatal,
escreverão leis, sem cumpri-las, jamais,
apregoarão mofadas/emboloradas/desbotadas ideologias,
e deitados viverão eternamente com pompa e circunstância
copulando com suas fantasias.
Que nojo!
o eterno discurso não mudará o rumo dessa procissão de doentes,
se alguem der o primeiro passo, for dissidente, será banido.

Puta vida !
Vida de amargar.
Do útero cheguei,
do agradável, nem é bom falar,
o fim do mundo é isso aí,
e tem besta ,que ainda teima em chegar!-


Marilene Garcia em MORDENDO A LÍNGUA

DOR

Náufraga
oceano não engole, nem devolve.
Raízes flutuam contra o vento semi mortas.
A antevisão do terror não concerne gritos
por mais pungente a dor, o sofrimento.
Salmoura entope poros
tatua carne viva com algas mortas
apodrecidas,
enquanto o coração estraçalhado,
a garganta secando e o ventre molhado.
Depois, à deriva, mutilado.

Camaleônica tenta flutuar
tecendo o fim da agonia,
Fúria eclodindo.
Fragmentada foi sina e suor,
superou todos os limites
nem chora mais.
Debruçada na areia
corpo ainda em chamas
bem distante do mar.
Nua & Crua
morta/afinal.-

Marilene Garcia em : MORDENDO A LÍNGUA

quarta-feira, 14 de julho de 2010

ALFORRIA

Recontrói-se
entre o circo, o algodão doce e o trapezista,
a algazarra alia-se a vida de artista,
óculos indagam se de repente,
um arco ires pintou em sua frente.
Aninhada na própria pele,
foi-se a donzela de rosto tímido e carmim,
o peso inglório pelos pecados do mundo,
coloca seu polén em outro jardim.
Por fim, uma nesga de mar,
assanhada
neste namoro oblíquo
quando torres de cimento,
cegam o olhar,
nem vê mais o mar.
Refugiada em tépido ninho,
línguas podres que molhavam,
não se atrevem mais.
Entrelaçando imagens
resiste ao caos.
O poema salva selva ignara,
todos e os demais.
Alforriada, afinal.-


Marilene Garcia em NUA & CRUA

FRUTA MADURA

Ah!
Poder fazer o que se quer a todo instante,
não ter de pagar pedágios, alí adiante,
desinquietar-se,gozar sem espiões,
ser uma vela queimando entre lampiões.
Poder ignorar centenas de pupilas dilatadas
faiscando qual FBI a procura de ladrões.
Enlouquecer de vez
endoidecer, talvez,
rasgar retratos, abstratos,
que te aprisionam,
por fim,incinerar contratos, e
desamarrar o corpo do nó do sapato.
Sair a rua nua e crua,
entrar em casa, rasa,
rir muito mais do que devia
gargalhar muito mais do que queria
depois
descascar-se qual fruta madura
ser sugada, devorada.

Após,
limpares a baba, a boca
com o dorso da mão,
dizer:" Ah! Fruta madura, tesão !"

Marilene Garcia do livro : MORDENDO A LÍNGUA

DAS DÚVIDAS

Não sei se sigo ensimesmada
pensando ou a sonhar
se desengaveto a VIDA
que guardei para vive-la mais tarde
ou se vivo-a, agora sem alarde,

Visto a roupa, abro a porta, vou embora.

Quem viver verá mas por enquanto é só.
Irresignada, contestatória,
em meio a devastação que nos assola,

Persigo esta des/v/ida
tal qual bola endereçada
a mãos de crianças ou gatos angorás,
entre seres rascunhados, programados
para porta retratos.

Depois ,não encontrando -a,
fujo destes incólumes fantasmas,
ambulantes, perambulando ,alienados,
preocupados apenas com suas carcaças,
amorfas, insipidas , inodóras e,
plenas de recato.
Vida/onde ?
(fora do porta retrato).

Marilene garcia em MORDENDO A LÍNGUA

MORDENDO A LINGUA

Mordo a língua,
quando refém dos amigos, dos inimigos íntimos,
e na dança macabra,entre orgias diárias e rituais pagãos,
tento exorcisar os pecados do mundo.
estes, tatuados, na minha pele ,nua e crua
e os que ainda virão.

Mordo a língua quando nua e crua
ao abrigo da ira, da malediscência,
observo flecha endereçada, mas
assassinato arquitetado não recua.

Mordo a língua, quando sonâmbula
à beira do cais, na areia movediça,
ou cega na corda bamba, sou sacudida
da base ao cume ,e nem sinto mais.

Mordo a língua .
Não tento comprovar a hipocrisia,
a inconsciência, malvadez
na antropofagica amizade, sordidez
,
Mordo a língua ao perceber
que é melhor estar com quem devora,
ser engolido , do que nada ser,

Mordo a língua,
quando ao meu redor
não estejam criaturas,
vestidas de carne, sangue e suor,
continuando arremedos de gente,
esboços, derrubados eternamente
nos seus vazios barrocos.

Mordo a língua
pelos complôs, conspirações,
inconfidências que, tal qual serpentes,
acabam por morder a própria cauda,
estes inconsequentes.

Mordo a língua,
quando tentam me morder
arrancar a máscara
acabando por envenenar-se
com a minha náusea.

Mordo a língua
por esses heróis sem causa.-

Marilene Garcia do livro: MORDENDO A LÍNGUA



DESMASCARADA/ ENFIM SALVA

Sendo falsa,
bem devagarinho
uma sob/pele redesenhei,
alí , escondi a inveja,a ira,
enfim todos os pecados capitais e mortais,
perambulando entre anjos e demonios
e seus iguais,
Retirada a mácara, cai das nuvens,
entre ondas que se debatiam,
querendo por força
ter um orgasmo com o mar.
O universo assistindo a máscara cair
tentou ainda o resgate /envergonhado.

Enquanto , Arlequim, Pierrot e Colombina
dançavam entre confetes e serpentinas ,
suas alegrias e sua arte,
senti o quanto tarde me desvendei, afinal,
e agora , sem máscara,
como irei brincar o Carnaval ?-

Marilene Garcia do livro : DESMASCARADA

DESMASCARADA ENFIM SALVA

DESMASCARADA

Quando nos cai a máscara,
alguem ganha alguem perde
aliviada ,quando perdi a minha,
foi uma vitória
o fim dessa bizarra estória.
Liberta enfim
e liberta prá mim.

Quando fui desmascarada,
pássaros assustados
voaram sem destino
por céus jamais imaginados.
Quando desmascarada/alivio,
outro véu, leve diáfano,
cobriu-me a face,
cabeça/tronco/membros
sangue/suor e nervos.
Agora desnudada e higienizada,
despoluída e longe da orgia pagã.
Quando desmascarada,
nua e crua,
por fim a gargalhada.

Marilene garcia do livro/ CAIU A MASCARA

DOS SEGREDOS

Tenho guardados especiaias,
que correm sérios riscos,
e até enlouquecerem,
se afoitos curiosos,
por ventura ou
desventura,

se aproximarem deles.-



Marilene Garcia em : MORDENDO A LÍNGUA

EM TORRES/ AGORA DE CIMENTO

Despida de insignias
aguardo a sina que me traduz,
bastarda nem tanto,
afago a tara que me seduz
sem lei, sem rei, sem esporte,
bastarda na sorte

Do místico me ocupo,
no útero escuto,
coral de senões,
e é só nos verões
que saio da raia,
ou quando, núa e crua,
despida, na praia,
aguardo a sentença
de corpo fechado,
e nem me preocupa
se o pacto feito
é com Deus ou com o Diabo.-

Marilene Garcia em : NUA E CRUA

IN VINO VERITAS

Jorra
de tetas rubras
rosas,brancas,verdejantes
braços despencando
pedindo abraços.
Embala néctar
ora doce, ora ácido e ardente.
Videiras
parreiras,
mãos dadas, entrelaçadas
na travessia.
Iluminada polpa na transmutação
líquido que benze ,aquece, embriaga
afoga e afaga coração,
explode tênue fio
entre o ser e a razão.-

Marilene Garcia em MORDENDO A LÍNGUA

NUA E CRUA 2

Benta, ignora besouros indemoniados,
em tímpanos profanos que não escutam,
o esperma que ultimou não redimiu
e o crime praticado, condenou.
Pele rasgada, explode,
a dor não contempla e arde,
são noites de angustias e pecados,
insanos chegam, sem serem chamados
Sangra
ferida exposta ao arrancar
as pedras do caminho,
transportando algemada
coroa de espinhos.
Nua e crua vira esquinas
sarjetas e calçadas,
fazendo do ofício/sina
o tempo é passado
e nada é mais nada.
Germina ainda morta,
milagre,cisma ou sinal
de que na dor é imortal.
Rosa dos ventos teima em procurar
o acalanto que não teve,
teve na agonia, o pranto.

Do livro : NUA E CRUA Marilene Garcia

GAUCHICE

Fui chegando sem segredos ou alquimias
molhada pelo sereno das noites, das invernias,
neste gauderiar andejo, desviando ventanias,
retirei buçal e freio e vim pealar a alegrias.
Muito guerreira eu vim, muita garra precisei
sem tribos, sem donos, sem rei,
o meu espaço encontrei e só então me plantei.
Pontilhado de sementes, foi meu caminho, escolhido,
e sempre/sempre deram frutos,
neste andejar perseguido.
Coberta por lua nova, lá na beirada do céu,
me queriam, só abelha, mas me fiz favos de mel.
No azul do meu horizonte sou bem mais que um caminhante,
pintando suaves matizes nos sonhos que não são livres,
e a liberdade que trago, brota das minhas raízes,
e o grito que desafogo, mais que um brado, é Gauchice!.-

Do livro XIRUA 1984

DA ESPERA

Busquei resgatar saudades,
nos passos, onde andejei,
nos espaços fiz morada
dentro deles me embretei.
Alvorotando canhadas
que nem em sonhos eu ví
mas em todas encontrando
vestígios vindo de tí
.Aguardo tua chegada
para trocarmos carinhos
aqueles desperdiçados
e estes, que estão sozinhos.
Cabresteando recuerdos
sou, qual potro em sentinela,
no corpo a espera queimando,
e o resto, tatuado nela.
Encilho minha paixão
prá gavalgares com ela,
a minha febre é alada,
neste manancial de espera,
e se engatilho o prazer
no momento da chegada
ao alvejar o teu corpo
vão ouvir tiros, na estrada.

Do livro XIRUA/1984

segunda-feira, 12 de julho de 2010

DOS QUERERES

Queria amar assim, olho no olho,
pele na pele,
osso no osso,
pêlo no pêlo.
Queria ir buscar no mar do teu suor,
o meu abrigo , e na paixão do amor,
te carregar sempre comigo.
Queria amar assim,olho no olho,
pele na pele,
osso no osso,
pêlo no pêlo.
Queria ocultar no céu da minha boca
o teu sabor, e me adoçar com ele,
e na paixão do amor, te sugar, por inteiro.
Queria amar assim, olho por olho
pele na pele,
osso no osso,
pêlo no pêlo.
Queria sentir, tal qual mágico, sua magia,
e no imaginario, transformar-te em peixe,
e eu, aquário.
Queria amar assim, olho por olho,
pele na pele,
osso no osso,
pêlo no pêlo,
Mas
a bem da verdade
separada de toda a histeria,
eu queria apenas o amor,
o amor, talvez também me queira, um dia.-

MALVADEZA

Eu te domo e tu me tomas,
eu te laço e tu me enlaças,
eu me escondo , atrás da porta,
tu, plantas a nossa horta,
eu , vestida de cetim,
tu, adubando de estrume,
nosso jardim.
Me entrego na tirania,
te perdes na ventania,
me tisno em banhos de sol,
roças lavoura e ao redor,
me trazes todo o sustento,
sem me cobrar o alimento,
me lambes velhas feridas,
sem indagar- em qual briga-
E eu,
eu juro que me indireito,
agarrada em teu peito
definitiva prometo:
-"Se Deus quiser,eu não saio mais da linha",
( aí então, Deus não quer).-

INVENTÁRIO

Exóticas fantasias, caóticas, não guardei,
outras tantas ,são relíquias,
algumas eu inventei.
Prolixos poemas, entregarei a um juíz,
que entre as leis , e as normas,
lhes dê, um final feliz.
E, prá prima linda e solta
tão puta, tão meretriz,
deixarei os meus amantes
e que lhes façam feliz,
e todos os meus pecados,
até aqueles que não fiz.
Legarei livros/pertences
a quem penso me amar,
e o mais lindo por de sol
junto à beirada do mar,
sanga funda e um lindo mato,
anéis e um porta retrato.
Deixarei a deus/ dará
bizarra estória de amor,
quem a souber traduzir,
vai suar, susto e horror,
não teve o bom da paixão,
nem o sabor do tesão.
E suspiros, e carinhos,
e arroubos de bem querer,
se alguem quiser me cobrar,
à partir deste momento,
iniciarei a Inventar.-

FOLIAS

Atiças, cobiças, escancaras
agarras.
Perco a vergonha e o juízo.
Acendes
disparas
despes e comparas,
fazes rebuliço,
sendo um estranho
nas minhas entranhas.
Boles,
sacodes,
arranhas e eu me enfezo.
Depois,
não manifesto se gozo, gosto ou desgosto,
o diabo, grita que tambem não presto,
e a folia em mim, então, se agita.

NUA e CRUA

Nua , desde o nascimento
crua, até a morte,
Nua de amor e chamamentos
inerte/sempre.

Em eterno estado de agonia,
ninguém se comove com a letargia cruel,
nem perguntam, nesta vida,
qual o seu papel.
Nua, ninguém ouve seu grito
crua, nenhum grito, explode.
No varal não existem roupas,
nem resquicios de pó na sala de jantar
música não se escuta, em qualquer lugar.
Nua e Crua
da medula aos pés.
Espraiada , assiste a chuva caindo lá fora,
percebendo que escuta seu barulho ,a surdez, se demora,
o ouvido surdo não vai embora.
Nua e Crua
obstinada pela loucura que não é sua
e que teima carregar .
Réstias de luz, por momentos,
arrependida por enxergar a claridade,
fecha os olhos, por covarde.
Nua e Crua,
neste cotidiano estereotipado
e enclausurado
Nua e Crua
soma seus pecados,
antes de morrer e apodrecer
Nua e Crua
foge do porta retrato
nem imagens, nem lembranças
quando foi arco,flecha e por fim, alvo.

MENTIÇÃO

MINTO
MENTIRAS
MENTIDAS
METIDAS EM
MENTES DEMENTES
..................DETIDAS e
.....................TIDAS COMUMENTE
..............................COMO MENTES SÃS.-