quarta-feira, 14 de julho de 2010

FRUTA MADURA

Ah!
Poder fazer o que se quer a todo instante,
não ter de pagar pedágios, alí adiante,
desinquietar-se,gozar sem espiões,
ser uma vela queimando entre lampiões.
Poder ignorar centenas de pupilas dilatadas
faiscando qual FBI a procura de ladrões.
Enlouquecer de vez
endoidecer, talvez,
rasgar retratos, abstratos,
que te aprisionam,
por fim,incinerar contratos, e
desamarrar o corpo do nó do sapato.
Sair a rua nua e crua,
entrar em casa, rasa,
rir muito mais do que devia
gargalhar muito mais do que queria
depois
descascar-se qual fruta madura
ser sugada, devorada.

Após,
limpares a baba, a boca
com o dorso da mão,
dizer:" Ah! Fruta madura, tesão !"

Marilene Garcia do livro : MORDENDO A LÍNGUA

3 comentários:

  1. Gostei muito do seu blog..são lindos os poemas...
    Fico feliz que uma poetisa do teu nivel tenha gostado dos meus modestos projetos de poesia...
    Que Deus a ilumine sempre! Beijos

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  2. Gostei muito do clima intimista, pessoal, desta narrativa. Ressalta a autenticidade da figura feminina do século XXI, que se contempla e contempla o mundo. Há momentos em que a Poesia prevalece, entranhada, delatora: "Sair a rua nua e crua,/ entrar em casa, rasa,/ rir muito mais do que devia/ gargalhar muito mais do que queria/ depois/ descascar-se qual fruta madura/ ser sugada, devorada.// O título do livro, apesar do gerúndio (que é sempre proibitivo ou, no mínimo, problemático, em Poesia), representa o cochicho da mulher convencional que se sabe ousada, dizedora do que outras não são capazes de delatar. Parabéns, amiga Marilene!

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  3. Monks/ Tu és meu professor/mestre de excelencia ímpar. A função primordial da linguagem é a comunicação que vai se conceitualizando e narrando a vida e o mundo/ TU na poesia vais delineando o que somos, apontando caminhos e nos redimindo do mundo das sombras. bjbj

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